"Você quer um pouco?", me perguntou um amigo alemão. "O que é isso?", questionei por educação. "Wiesn Cocaine", ele respondeu. Pelo nome e pelo ambiente em que a gente estava eu assumi que não seria uma boa ideia cheirar o que ele oferecia. Estávamos no meio de uma festa gigante em uma das maiores cervejarias da Oktoberfest, em Munique, e a pergunta veio depois de algumas canecas de litro de cerveja, mas minha suspeita não poderia estar mais errada.
Frasco de "Wiesn Koks", pó popularmente usado em festas na Alemanha. (Pedro Brienza/PELEJA)
Apesar do nome bizarro e de ser um pó branco que é inalado durante bebedeiras, aquilo na verdade é um produto legal na Alemanha e não passa de uma mistura de açúcar com mentol, quase que um remédio para gripe, um descongestionante nasal, mas que se torna muito popular nesses rolês alemães. Segundo eles, a mistura desse pó com o gole de cerveja dá uma onda – não foi dessa vez que eu descobri, afinal, estava a trabalho.
O PELEJA foi convidado pela DFL, organizadora da Bundesliga justamente para ver de perto e registrar a "Goaltoberfest", que é a rodada do Campeonato Alemão que acontece no meio da Oktoberfest, uma festa popular e super tradicional na Alemanha que rola em várias grandes cidades, mas tem seu destaque em Munique, já que foi lá que a festa começou no século XIX.
Cadeira devidamente adesivada na Allianz Arena. (Pedro Brienza/PELEJA)
Por um acaso, ou nem tanto, o confronto na Allianz Arena do penúltimo fim de semana do festival era justamente um dos mais esperados da temporada, e a razão apareceu poucos minutos antes do jogo começar. Isso porque foi a primeira vez em dez anos que a torcida visitante, a do Bayer Leverkusen, pode cantar "Somos Campeões Alemães!" na casa do todo poderoso Bayern de Munique, uma parada que algumas crianças que estavam por perto nunca tinham visto, já que geralmente quem canta essa são eles.
Em campo, o empate em um a um não refletiu muito a excentricidade da arquibancada, isso porque apesar da arena quase sempre lotar com 75 mil lugares ocupados por sócios, esse era um fim de semana diferente: além de vários turistas que aproveitaram o rolê para ir também nesse jogo, muitos torcedores saíram direto do festival para o estádio, usando o "Lederhosen", o traje tradicional de couro e chapéu que muito filme já retratou como o estereótipo alemão.
Bie The Ska, um dos maiores Youtubers da Tailândia, curtindo a Oktoberfest. (Pedro Brienza/PELEJA)
Em 2024, a equipe do PELEJA esteve por um mês na Alemanha para a cobertura da Eurocopa e, como parte da equipe de campo, posso afirmar que a vibe em Munique durante a festa é diferente de tudo que já tinha visto nos quatro cantos do país até então. Quando vi de perto o tamanho da superfeira que é montada próxima à estação central, deu para entender melhor porque o pessoal estava tão animado nos trens, arquibancadas e até pelas ruas de madrugada.
De acordo com muita gente com quem conversamos, esses finais de semana também marcam os últimos com temperatura agradável antes de um inverno rigoroso que domina a região pelos próximos cinco meses, ou seja, é a última oportunidade de curtir uma festa propriamente e encher a cara antes de ficar frio demais para isso.
Mesa decorada com adereços da Goaltoberfest. (Pedro Brienza/PELEJA)
As torcidas alemãs e sua relação metódica com seus clubes é latente em toda Alemanha, seja ultra, seja sócio, a maioria com quem falamos trata seus clubes como um compromisso importantíssimo, o que reflete nas médias de públicos absurdas que existem na Bundesliga, mas a experiência de ver esse cultura de futebol misturada com momento de extravasar da cidade como um todo é única e vale ser visitada - quem sabe na próxima até com um review do "Wiesn Koks".