"Deutscher Fussball Meister!" – essa era a frase cantada repetidamente na tarde de 18 de maio, durante o jogo entre o já campeão Bayer Leverkusen e o FC Augsburg na BayArena. Em tradução literal, a estrofe significa "Campeão do futebol alemão", direto e reto. Mas o tom repetitivo que incomodava um pouco quem não estava acostumado, soava quase insistente, como muitas daquelas pessoas que mal acreditavam que aquilo tudo era realidade.
E faz algum sentido. Após 120 anos de existência o Bayer Leverkusen ou Bayer 04, como é mais comumente chamado pelos seus torcedores, levantou o tão desejado título do campeonato alemão e eu, acompanhado pela e representando a equipe do PELEJA, tive o privilégio de passar alguns dias na cidade mais celebrada da Alemanha na semana do recebimento da taça e da confirmação da campanha invicta de 34 jogos com nenhuma derrota.
Na chegada a Leverkusen vindo de Colônia o motorista do carro já sabia que só havia praticamente duas coisas que levariam estrangeiros à pequena cidade: "Vieram por causa da fábrica ou do futebol?― perguntou. Quando disse que éramos brasileiros, a resposta se tornou desnecessária, ele mesmo concluiu e questionou: "Vão ao jogo?", a resposta dessa vez foi apenas "sim", mas ele emendou: "E a festa? Vão ficar para festa?", ele se referia a grande comemoração marcada para o dia 26, data estratégica para o clube que não queria comemorar demais – "coisa de alemão", como disse uma representante do clube.
Crédito: PELEJA
O Bayer, além de levar Bundesliga, disputou em 2023/24 as finais da Europa League e também da DFB Pokal, a Copa da Alemanha. Com a possibilidade da tríplice coroa, a prefeitura e a diretoria do clube definiram que a tradicional festa com o público e trio elétrico seria feita de uma vez só, após a final da copa nacional, o verdadeiro último jogo da temporada. E para esse evento, a resposta foi não, já estaríamos em Dusseldorf.
Nos primeiros dias pela cidade, para gravar imagens do filme lançado pelo PELEJA sobre o clube, fizemos o que sempre fazemos em lugares novos: caminhar. É sempre o melhor jeito de conhecer o ritmo das ruas e parar aos poucos para filmar cenas que vão representar aquela vibe depois. Mas a caminhada foi curta.
A parte com um real movimento de pessoas se limita a poucos quilômetros, o resto são casas e casas com ruas vazias, além de, claro, indústria.
Os prédios e mais prédios que compõem o ChemPark de Leverkusen estão por todos os lados que você olha no horizonte, não existe rua que não termine em um acesso a uma das propriedades da empresa que batiza o clube da cidade.
Crédito: PELEJA
Nas partes onde realmente existe um movimento, mesmo durante a semana, não é nada comparado a outras metrópoles que a circundam, todos parecem de passagem e os comércios funcionam como uma cidade de interior: abrem tarde e fecham cedo – uma pena considerando que nessa época do ano o sol se põe só depois das 21h.
Nos dias seguintes de gravações a nossa rotina e da cidade começaram a ficar mais intensas. Isso porque com a chegada do grande jogo, fomos conhecer pessoas indicadas pelo clube para ajudar a contar as histórias que fazem Leverkusen e o Bayer serem o que são e alcançarem um resultado tão absurdo.
O primeiro fica logo de cara, antes mesmo de falar com a primeira entrevistada. A BayArena é um dos melhores estádios que já pisei. A impressão é que tudo funciona e que o cuidado com cada detalhe foi planejado para servir a melhor experiência para os torcedores.
Crédito: PELEJA
Eu já fui em muito estádio nessa vida e esse talvez seja o estádio que mais combine com as pessoas que o frequentam. Não há nada de espetacular, apesar de muito bonito, a arena é extremamente funcional para cada perfil de torcedor, o que fica em pé e canta, o que senta e assiste, o que bebe, o que fuma, até o visitante, e o ambiente no qual o time se apresenta conta muito. Assim como na maioria das arenas da Bundesliga, o estádio está quase sempre cheio e os Ultras, apesar de não terem uma playlist muita vasta, cantam e empurram o time com seus megafones.
Aliás, foi de lá que rolou um dos momentos de arrepiar, literalmente. No minuto 19:04, que representa o ano de fundação do clube, os Ultras acenderam um sinalizador solitário para chamar atenção de todos do estádio que ficaram completamente calados, inclusive os adversários até o minuto 20:24, ano do título inédito da Bundesliga. Em baixo do sinalizador havia uma faixa com um escrito em alemão que eu tive que checar com uma colega que entendia a língua e me explicou: "era um pedido de silêncio por todos os torcedores que em 120 anos não puderam assistir a um título da Bundesliga do Bayer".
Crédito: PELEJA
Durante mais de um minuto só se ouvia os jogadores interagindo em campo, os únicos que não puderam olhar para a faixa. A complacência simultânea de 30 mil pessoas foi algo que eu ainda não tinha visto e não sei quando verei de novo em um campo de futebol.
Para quem viaja pela Alemanha atrás de futebol, Leverkusen é uma cidade que oferece um bom dia de diversão e agora bom futebol. Mas assim como desde praticamente a sua fundação, é um local para quem trabalha na fábrica, torce pelo Bayer 04 e dorme cedo, o que, sinceramente, não dá muito espaço para muitas reclamações.