A grande imigração da Turquia na Alemanha deu espaço para a xenofobia contra esses povos, que se sentiram reclusos pelos alemães. Algumas exclusões geram resistências, que podem se manifestar de forma extremista ou não. Foi o caso dos Lobos Cinzentos, um grupo ultranacionalista turco que vem crescendo, influenciando até o futebol local. 

De acordo com o jornal NZZ, antes da UEFA Euro 2024, a seleção turca fez um treino aberto em Barsinghausen, Alemanha. Na ocasião, torcedores ergueram uma bandeira com o símbolo do movimento.

O ex-jogador e atual técnico da seleção, Burak Yilmaz, relatou que em muitos jogos juvenis é possível ver bandeiras e camisetas com os símbolos dos Lobos Cinzentos. Treinadores e pais até incitam o nacionalismo turco. 

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A presença dentro dos bairros e no futebol

Há relatos de ataques contra jogadores de minorias étnicas, como curdos, armênios e alevitas, oprimidos também na própria Turquia. Yilmaz documentou a glorificação da violência, mas não há consequências, uma vez  que o grupo já está enraizado na política alemã. 

Surgidos nos anos 1960, na Turquia, os Lobos Cinzentos, conhecidos como "Ülkücülers" (idealistas), propagam a superioridade turca. Inicialmente ligados ao Partido dos Movimentos Nacionalistas, sua ideologia foi trazida por imigrantes para a Alemanha nos anos 1970.

Muitos trabalhadores turcos fundaram times de futebol na Alemanha após enfrentarem rejeição nas associações locais. Esses clubes foram uma resposta ao racismo, mas também abriram espaço para a infiltração dos Lobos Cinzentos.

Membros do grupo fascista se envolveram no futebol como treinadores e patrocinadores, alcançando jovens e suas famílias turcas. A dificuldade de integração dos imigrantes turcos na sociedade alemã facilitou a disseminação de sua ideologia.

Como ocorreu a disseminação da ideologia?

O cientista político Mahir Tokatli explica que "os Lobos Cinzentos exploram a exclusão dos jovens para promover o nacionalismo turco, oferecendo uma identidade alternativa: 'Torne-se alemão, continue turco!'"

Em julho de 2023, uma foto de Özil com uma tatuagem dos Lobos Cinzentos causou polêmica. O jogador, que já foi um símbolo de integração, agora é visto como figura publicitária dos ultranacionalistas.

Crédito: Alper Aksac/Instagram

Özil, nascido na Alemanha, de pais turcos, que já foi símbolo de uma Alemanha multicultural, enfrentou críticas e racismo após uma foto com o presidente da Turquia, Erdogan. 

Muitos jovens turcos na Alemanha se identificam com sua história de exclusão, e abraçam a ideologia dos Lobos Cinzentos. Alguns aparecem em fotos fazendo o símbolo com as mãos que representa a cabeça do lobo.

Alguns clubes germano-turcos, como o Turanspor, expressam abertamente seu compromisso com o nacionalismo turco. Nas redes sociais, há conexões com o partido de extrema direita MHP e vídeos glorificando a violência.

Entre jovens turcos na Alemanha, a possibilidade de promoção da ideologia na Euro 2024 é um prato cheio. Explorando tensões raciais e políticas, os Lobos Cinzentos podem usar do futebol mais uma vez para recrutar novos membros.

Por que o lobo e a lua são o símbolo?

Na mitologia turca, o lobo é um símbolo importante. O lobo cinzento, conhecido como "Bozkurt," é considerado um guia espiritual e um símbolo de força, liberdade e lealdade. De acordo com a lenda, um lobo guiou o povo turco à segurança durante tempos difíceis, e essa imagem se tornou um emblema de proteção e liderança.

Já no nacionalismo turco, O movimento Ülkücü, ou "Idealista," adotou o lobo como um símbolo para representar suas ideologias nacionalistas e pan-turquistas. O lobo cinzento simboliza a pureza étnica e a unidade entre os povos turcos.