Um clube de futebol é um conjunto de identidades. Suas cores, seu escudo, seu estádio, seu hino, seus ideais, tudo isso é parte de uma composição poderosa que faz com que uma pessoa se identifique com ele, e assim passe a se ver como um torcedor. Mas é óbvio que ninguém analisa rigidamente esses elementos para escolher o clube de coração. É uma coisa natural, você simplesmente… torce. E com o passar do tempo você aprende a amar.
Dentro desses elementos identitários, um dos mais legais, diversos e peculiares são os mascotes, e um grupo em particular se destaca nesse universo: os animais. Alguns têm tanta identificação com os clubes que passam a ser uma espécie de sinônimos dos seus nomes, como o Galo, que representa o Atlético Mineiro e o Treze da Paraíba. Ainda tem a Macaca, da Ponte Preta, o Peixe, do Santos, o Porco, do Palmeiras.
O GALO É UM DOS CLUBES MAIS IDENTIFICADOS COM SEU MASCOTE. REPRODUÇÃO/LEI EM CAMPO
Mas tem um animal em especial que sempre aparece como o favorito na hora de escolher uma figura como representante. Frequentemente associado a coragem, força e lealdade, o leão assume o posto de mascote de vários clubes no Brasil e no exterior. Uma pesquisa desenvolvida pela ESPN, em 2014, levantou que na Copa do Brasil daquele ano o “Rei da Selva” foi, com sobras, o animal mais amado dos clubes: dos 87 que disputaram a competição, 9 tinham o felino como símbolo. Na sequência, apareciam o tigre e o tubarão.
Mas por que tem tanto leão no futebol? Bom, isso reflete um pensamento da sociedade sobre o que o animal significa. E aí a pergunta pode ser ainda mais profunda: por que nós cultuamos e respeitamos tanto a figura do leão? A resposta não é simples e não é possível estar 100% convicto dela, mas é um questionamento que nos leva aos primórdios da civilização.
FORTALEZA, SPORT, VITÓRIA, REMO, MIRASSOL, AVAÍ E ATÉ O CHELSEA SÃO CLUBES QUE TÊM O LEÃO COMO MASCOTE. REPRODUÇÃO/FORTALEZA EC
Na antiga Mesopotâmia, o leão era frequentemente usado como um símbolo de realeza, e muitos reis e imperadores da região se associaram ao animal em sua iconografia. Diversos murais, templos e estátuas daquela época, por exemplo, levam a imagem do animal. Já na Roma antiga, o leão era frequentemente associado aos imperadores e aos gladiadores, que lutavam nas arenas contra os ferozes felinos; eles também apareciam em muitas insígnias e brasões de armas romanos.
Mais tarde, na Idade Média, muitos reis europeus adotaram o leão em seus brasões de armas e estandartes como um símbolo de poder e autoridade - o brasão de armas da Inglaterra até hoje apresenta três leões "passant guardant" sobre o fundo vermelho. Já recentemente, no período moderno, vários líderes políticos e militares também usaram essa figura. Winston Churchill, primeiro-ministro britânico durante a Segunda Guerra Mundial, era frequentemente retratado como um leão, e até sua biografia oficial se refere a ele como “The Last Lion”, ou “O Último Leão”.
FOTO DO EX-PRIMEIRO-MINISTRO BRITÂNICO QUE FOI NOMEADA COMO “THE ROARING LION”, OU “O LEÃO QUE RUGE”. YOUSUF KARSH
As mais variadas culturas e religiões também representam esse animal como uma divindade. Na bíblia cristã o leão é mencionado várias vezes como um símbolo de força e poder. Nela, o próprio Jesus Cristo é descrito como o "Leão da tribo de Judá". Já na tradição islâmica, o leão é conectado com o profeta Maomé, enquanto na Hindu, ele é associado à deusa Durga, uma divindade que representa a força e a proteção. Para os Iorubás, o leão é um enorme símbolo de realeza, sendo também associado ao orixá Xangô.
Deu para perceber que essa exaltação do leão não é exclusividade dos clubes de futebol e muito menos dessa época em que vivemos. Ele é um animal cultuado desde a civilização mesopotâmica, que teve seu surgimento por volta do ano 5.000 a.C.. A visão sobre a figura imponente do leão foi sobrevivendo nas sociedades até chegar na Era Contemporânea e se transformar, por fim, no mascote mais usado do mundo futebolístico.
O LEÃO MALINO DO CLUBE DO REMO. REPRODUÇÃO/REMO 100%